domingo, 15 de março de 2009

Corpos deficientes: um olha no passado

Texto: Letícia Gomes Pereira - Aluna do 6º período do Curso de Educação Física da UFVJM

O conceito sobre P.N.E. não é algo palpável embora seja aceito pela sociedade , determinando que portador de necessidades especiais é aquele que por deficiência física ou mental esta limitado de viver plenamente

Desde o início da história da humanidade, os tipos de comportamento em relação às pessoas com deficiências eram de eliminação, destruição e menosprezo, caracterizados pelos corpos e suas marcas.

Na visão de Carmo (1989), fosse por necessidade de sobrevivência e superstição, algumas tribos ignoravam, assassinavam ou abandonavam as crianças, adultos e velhos com deficiências e doenças. A vida nômade lhes obrigava essa atitude. Outras tribos acreditavam em feitiçaria, maus e bons espíritos e por respeito e/ou medo não atentavam contra seus diferentes.

A cristianização “relacionou a alma a Deus e o corpo à esfera do demônio”. Corpos marcados pela deficiência eram vistos como manchados pelo demônio, vindos à vida por conta de carmas e culpas de seus pais ou familiares.

No decorrer da Idade Média, as PD deixaram de ser exterminadas passando a ser excluídas do convívio social; prática decorrente da ascensão do Cristianismo em que as pessoas eram guardadas em casas, vales, porões, período marcado pela segregação. Percebe-se aqui a tentativa de salvar em detrimento da eliminação através da morte.

É interessante lembrar que nesse período, a dicotomia deixa de ser corpo/mente e passa a ser corpo/alma. A pessoa com deficiência deixa de ser morta ao nascer, porém passa a ser estigmatizada, pois, para o moralismo cristão, católico, deficiência passa a ser sinônimo de pecado.

Surge então o Renascimento, como movimento fundamental para a revisão do cenário sócio-político-educacional, período importante para a renovação de conceitos.

Apesar de um suposto avanço, mesmo sob a influência de estudos científicos, principalmente na medicina, pessoas com deficiência física foram perseguidas e pessoas com doença mental foram torturadas.

O século XX traz um incrível avanço tecnológico que modifica fundamentalmente a estrutura organizacional da sociedade. O avanço das comunicações (telégrafo, telefone, rádio, televisão e satélites) torna o mundo um espaço sob controle das grandes potências mundiais. A guerra fria, a produção científica, o posterior desenvolvimento da informática, [...] (GAIO, 2006, p. 83).

Nesse período localizam-se algumas iniciativas marcantes de um novo tempo para a realidade dos corpos deficientes.

Após a II Grande Guerra Mundial, (Araujo 1997) aconteceram algumas atitudes positivas em relação às PD. Iniciam-se em hospitais, primeiramente, programas de reabilitação dirigidos aos lesionados das Guerras como possibilidade para reintegrá-los ao mundo.

“Com a volta dos mutilados de guerra em 1945, somados aos deficientes traumáticos e congênitos já existentes, verifica-se o despertar da Educação Física em especial dos esportes, que pudessem atender essa clientela”. Segundo o professor Fernando Gripp,foi nessa época o  surgimento dos Jogos de Stoke Mandeville e a fundação do Centro de reabilitação dos soldados lesionados.

Com o advento do Ano Internacional do Deficiente, decretado pela Organização das Nações Unidas em 1981, inicia-se um processo de maior incentivo, por parte dos governantes, numa tentativa de provocar na sociedade discussões acerca da problemática que envolve essa população, principalmente a questão das possibilidades desses corpos com deficiências em contraposição as suas limitações.

A história dos PNE no Brasil caminhou paralela aos países mais avançados, porém percebe-se que por motivo desconhecido, os índios, não apresentavam quantidade significativa de PD o que nos faz pensar em possibilidades de genética/ambiente ou rejeição.

No Brasil imperial, surgiu o instituto dos mudos e surdos em 1887, o asilo dos inválidos da pátria em 1868 e o imperial Instituto dos meninos cegos , porém todos ainda com idéia de segregamento.Apenas quando brasileiros foram se tratar nos EUA, nos centros de Reabilitação, percebemos a inovação com a idéia de inclusão.

Percebe-se que as PD foram, ao longo da história, perseguidas, separadas do convívio social, por apresentarem diferenças em seus corpos e em suas atitudes e, por considerar os seres humanos como corpos não podemos negar que, em sua estrutura biológica, se apresentam incompletos, aqueles que desde o início da história da humanidade até os dias atuais são denominados de deficientes"

Segundo o professor Fernando Gripp, a preocupação com os corpos deficientes, por parte da sociedade, sendo a educação uma das áreas mais envolvidas nesse processo, marca significativamente o fim do século XX e início do XXI.

Mudar a concepção desses corpos é a marca deste período histórico. Olhar para eles sem piedade, mas com reconhecimento, acreditando em suas capacidades para além das limitações que apresentam é o que se propõe a humanidade, estimulada pelos próprios corpos deficientes e por todos os outros corpos que acreditam que todo ser humano pode superar quando tem oportunidades para tal.

Com base nos acontecimentos históricos fica evidente a evolução de um período em que a vida humana não era de grande valor, para outro em que o próprio avanço tecnológico mostra a preocupação do ser humano em transformar a realidade para auxiliar aqueles que necessitam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores